Boa noite
Tenho observado com atenção o forum e sigo atentamente todos os tópicos que se vão desenvolvendo. Alguns deles merecem-me atenção especial, que pretendo desenvolver aqui no blog, logo que tenha o tempo suficiente.
Como aqueles que acompanham o blog sabem, ainda não efectuei a escritura da casa (e respectivos acessórios), pelo que não tenho a vivência diária para poder escrever sobre determinados assuntos convenientemente.
Deixo para todos os vizinhos que moram no empreendimento essa função, através do forum, ou através de emails que me pretendam remeter, bem como à Sara, que tem acesso ao blog.
Todavia, existe um ponto que julgo ser necessário ponderar com algum critério. Mais do que a minha opinião pessoal, que eu não posso transmitir por ainda não ter acesso à minha futura casa, é um pequeno contributo para a discussão da qualidade de construção dos empreendimentos.
Como todos nós sabemos, os empreendimentos foram construídos em regime de habitação a custos controlados, o que significa basicamente que se pretende, com este regime, a construção de habitações a um preço abaixo do seu real valor de mercado, em virtude de existir um apoio do INH (Instituto Nacional da Habitação), bem como a venda e/ou permuta de terrenos que, de outra forma, seriam um peso exorbitante para o valor final da habitação.
Exactamente em virtude desta situação, este tipo de habitações é onerado com a impossibilidade da venda durante cinco anos, contados a partir da data da escritura, de modo a impedir a especulação imobiliária imediata, visto que a ideia da habitação a custos controlados é a promoção da habitação junto de camadas sociais que, noutras situações, não teriam possibilidade de adquirir um imóvel em determinadas zonas geográficas.
É evidente então que, este tipo de construção, não se enquadra com acabamentos de luxo nem com uma ideia de exploração comercial idêntica à normalmente praticada no mercado habitacional.
A qualidade de construção dos nossos empreendimentos só poderá ser avaliada, em primeiro lugar, pelos seus habitantes, nos quais eu, por enquanto (e espero por muito pouco tempo) não me incluo. Todavia, alguns amigos meus, com alguma experiência na construção civil, que foram visitar o imóvel enquanto este ainda estava em construção, referiram-me que, aparentemente, a qualidade da construção estava salvaguardada.
Bem como, quando falo de qualidade de construção, não me refiro aos erros gritantes do projecto de arquitectura, como por exemplo aqueles que provocam as graves questões de insegurança dos prédios em banda das Galinheiras.
Todavia, temos de tentar inserir os diversos aspectos negativos no plano da construção civil geral do nosso país.
Em relação a este aspecto posso falar de diversos exemplos que recolhi ao longo dos anos:
- A minha mãe reside num andar arrendado em Lisboa, inserido num prédio de construção antiga, que foi remodelado no ano passado. Ao lado do prédio da minha mãe foi construído um prédio, hà cerca de 10 anos, de habitação de luxo. A minha mãe, em inúmeras ocasiões, ouve perfeitamente as vizinhas do referido prédio de luxo a falar, ou a usar a casa de banho.
- No prédio onde habito actualmente, que tem cerca de 10 anos, e que diversas pessoas já consideraram como tendo uma boa qualidade de construção, ouço perfeitamente o vizinho de cima a passear em casa, tomar banho, a falar, já para não falar de quando estou deitado e acordo sobressaltado com pessoas a sussurrar no passeio (moro num R/c).
- Em relação aos nossos empreendimentos não estou, como acima referi, habilitado falar. Contudo, não queria deixar de colocar aqui um
artigo do Pedro, do blog
Viver Bem na Alta de Lisboa, que julgo elucidativo. Em primeiro lugar porque se trata de um tipo de habitação bastante mais dispendiosa do que a nossa. Em segundo lugar porque, somos praticamente vizinhos na mesma área de influência.
Espero que os membros do referido Blog, cuja leitura aconselho vivamente, me perdoem esta cópia!
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Sexta-feira, Fevereiro 10, 2006
Qualidade
Dos muitos comentários que o último post suscitou, fiquei com a ideia de que uma das principais razões - se não a principal - que levaram as pessoas a querer vir habitar a Alta foi a da qualidade. Qualidade do espaço urbano (sim, aceito que, pelo menos no projectado, ela é inegável), qualidade do espaço habitacional.
E volto a repetir a pergunta que fiz então: têm a certeza da qualidade da "qualidade" do espaço habitacional?
Tenho tido, no decorrer da minha actividade profissional, a oportunidade de conhecer com algum detalhe a actividade imobiliária em alguns países - tanto no que se refere às definições de construção como aos diversos produtos imobiliários disponibilizados em relação à gama de preços. E cheguei a duas convicções: em Portugal, o que é considerado o supra-sumo da qualidade - o "luxo" - é poeira para os olhos de quem tem muito dinheiro para gastar e poucas exigências para viver; a relação preço/qualidade de construção (mensurável fisicamente) é altamente deficitária.
O que é considerado luxuoso nos outros países não existe em Portugal e, inversamente, o que é considerado "de luxo" em Portugal não valeria dois caracois em mercados mais exigentes.
Por outro lado, pagam-se como excepcionais, características que são consideradas quase corriqueiras noutros países.
Porque é que se valoriza tanto um sistema de condicionamento térmico quando até já há legislação que impõe capacidades mínimas de inércia térmica aos edifícios que - a ser efectivamente seguida - quase o tornariam dispensável? E porque é que vidros duplos, caixas de ar revestidas com isolamento térmico e acústico, pavimentos flutuantes são referidos como excepções a ser devidamente realçadas? O facto da estrutura ser em betão ou os prédios terem elevador ou canalização de gás é-o?
Acresce que, o facto de existirem estes componentes não assegura que o funcionamento dessas infra-estruturas seja o desejado. Em Portugal constroi-se cada vez mais desleixadamente.
E para que não venham já dizer que estou a exagerar pergunto-vos: nas vossas casas novas da Alta já tiveram ocasião de apreciar as qualidades vocais de um dos vossos vizinhos (de cima, de baixo, do lado)? as conversas no átrio do vosso piso? o levantar voo de um avião na Portela (tudo isto evidentemente de portas e janelas fechadas)? Já tiveram de ir a correr aumentar o fluxo de ar ou de água quente no sistema de aquecimento ambiente porque, ao amanhecer, sentiram especial relutância em circular de pijama pela casa? E num outro plano, nunca terão ido em desespero pedir encarecidamente ao vizinho de baixo para desligar a lareira porque o ar na vossa sala se aproximava rapidamente do irrespirável? Nunca descobriram com surpresa uma preocupante ausência de ligação do esquentador à conduta de evacuação de ar da cozinha? Ou sentiram uma zoada nos ouvidos devida ao barulho do exaustor automático da cozinha...? Nunca tiveram as portas completamente arruinadas devido às infiltrações de água vindas do andar de cima porque, devido à inexistência de um tubo de fuga, a água acumulada na varanda acabou por inundar todo o apartamento? OU - caricatura das caricaturas - acharam que era um exagero de salubridade usar-se água quente no autoclismo?
Não, não estou a inventar. Tudo isto são casos passados em casa de amigos e, à excepção de um, todos em edifícios do admirável sítio novo... É que se constroi mesmo com duas mãos esquerdas em Portugal."